Os alimentos remosos ou reimosos fazem parte da cultura popular brasileira, principalmente da região norte e nordeste, e embora não tenha sido comprovado cientificamente, esse termo é utilizado para os alimentos que fazem mal, que interferem nos processos de cicatrização e são contraindicados para pessoas com ferimentos, em período pós-operatório, mulheres grávidas e que estão amamentando.
A palavra “reimoso” vem da palavra grega “rhêuma” que significa escoamento, fluxo, se referindo aos líquidos que saem do corpo, e músculo dolorido, carne mole, dando origem à palavra “reumatismo”.
“Reima” também pode ser utilizado para se referir a um alergênico, ou seja, que causa reações alérgicas como diarreia, coceira, vermelhidão e até mesmo intoxicações mais sérias.
De acordo com alguns pesquisadores, essa espécie de tabu alimentar pode ter origem indígena e acabou sendo difundida pelos colonizadores portugueses.
Dentre a lista de alimentos considerados reimosos ou alimentos carregados (como também são chamados) estão algumas carnes de animais que possuem alto teor de tecido gorduroso. Será que, então, a carne de porco é remosa, mesmo sendo uma fonte de macroelementos essenciais ao reparo cutâneo, ou seja, ajuda na cicatrização?
Alimentos remosos e cuidados com feridas e cicatrização
Há anos a humanidade se preocupa com o cuidado e cicatrização de feridas, afinal, trata-se de um processo complexo e que pode levar de meses a anos para que esteja completamente cicatrizada, e que pode até mesmo causar danos à saúde.
Há vários fatores que estão envolvidos na cicatrização da pele que podem resultar em atraso no processo. Com isso, a cultura popular acredita que existem alguns alimentos que interferem diretamente nesses processos – são eles os alimentos remosos.
Embora de acordo com cada região ocorra uma certa divergência do que é considerado remoso ou não, grande parte acredita na necessidade de redução ou suspensão total do consumo desses alimentos em certos estados patológicos ou fisiológicos do organismo, como por exemplo quando a mulher está grávida, amamentando, ou as pessoas estejam com enfermidades crônicas ou agudas.
Mesmo não havendo consenso sobre todos os alimentos considerados remosos, eles estão correlacionados com a carne de animais, e entre elas, está a do porco. Foi baseado nisso que os pesquisadores da Universidade do Pará decidiram realizar uma pesquisa, pois embora parte da população acredite que a carne de porco é remosa, há uma grande carência de dados a respeito da ação imunomoduladora da dieta remosa e qual a influência desses alimentos no processo da saúde e doença.
Pesquisa investigou se carne de porco é remosa
Os pesquisadores da Universidade do Estado do Pará utilizaram 30 ratos que foram submetidos a um procedimento de excisão cutânea (procedimento realizado para remover uma lesão da pele) e divididos em dois grupos em que um foi alimentado com uma dieta convencional e o outro com uma dieta composta por 50% de ração e 50% de carne suína.
Após o período de adaptação dos animais que foram cuidados de acordo com a legislação em vigor e princípios éticos do Colégio Brasileiro de Experimentação Animal (COBEA), eles foram submetidos a um ato operatório para a confecção da ferida cirúrgica e em seguida colocados em gaiolas individuais e distribuídos em dois grupos, cada um seguindo uma das dietas.
O grupo de controle recebeu no pós-operatório a dieta convencional, e o segundo grupo recebeu a dieta remosa, ou seja, ração suplementada com carne suína proveniente da região do lombo de Sus Domesticus. Os animais foram submetidos a uma nova anestesia após 7, 12 e 21 dias para que os tecidos cicatriciais recém-formados fossem retirados e estudados.
Ao final do estudo, os pesquisadores chegaram à conclusão de que o grupo submetido à dieta suplementada com carne suína mostrou uma evolução favorável ao processo de cicatrização. Os resultados apenas apresentaram algumas evidências que indicam que dietas ricas em gordura saturada e hipercalóricas, se usadas de forma crônica, seriam desfavoráveis ao processo inflamatório cicatricial. Ou seja, os resultados da pesquisa foram contrários à cultura popular de que a carne de porco é remosa.
Benefícios da carne de porco
A carne de porco tem um valor nutricional maior do que você pode imaginar, pois contém muitas vitaminas e minerais essenciais – apenas 90 gramas de carne de porco magra cozida cobre mais de um terço das necessidades diárias de tiamina, niacina, selênio e vitamina B6.
Além disso, é rica em vitamina B12, potássio, magnésio, ferro e zinco, e uma quantidade do tamanho da palma da mão também oferece 22 gramas de proteína de alta qualidade.
Pesquisas sugerem que a carne de porco oferece benefícios especialmente para manter a massa muscular, principalmente no caso das pessoas que querem perder peso e adultos mais velhos, mas isso ocorre com os cortes mais magros – quanto mais magro, mais concentradas estão suas propriedades saudáveis.
Quanto aos cortes mais gordos e produtos de carne de porco curada, como salsicha e bacon, os benefícios são diluídos com o monte de calorias, gordura saturada e sódio.
E, como visto anteriormente, alimentos remosos são algo que fazem parte da cultura popular, porém não estão ligados à ciência. A pesquisa provou que não é verdade que a carne de porco é remosa, por isso, mesmo que esteja passando por algum processo de cicatrização, você pode consumir carne de porco, mas se for alérgico, deverá evitar. No caso de dúvidas, consulte sempre o seu médico.
Referências adicionais:
- http://files.bvs.br/upload/S/0101-5907/2014/v28n3/a4510.pdf
- https://www.washingtonpost.com/lifestyle/wellness/is-pork-good-for-you-its-complicated/2017/07/17/91ff8df0-6588-11e7-a1d7-9a32c91c6f40_story.html?noredirect=on&utm_term=.1d824ae9a490
Você já tinha ouvido falar que a carne de porco é remosa? Tem o costume de comer esse tipo de carne com frequência em sua dieta? Comente abaixo!
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